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Sexto Olhar

Lídia Jorge texto

Sara Feio desenho digital em tempo real

Susana Menezes leitura

 

"(...) Se eu não pertencesse a esta cidade, sairia em paz, como saio das cidades a que não pertenço, apenas percorro, nelas janto, vejo cair a noite, visito. Tomo notas, resumo a história e adormeço com uma saudade vaga. nada mais. (...) Contudo, quando se pertence a uma cidade, não se pode ir tão rápido, nem ficar sentado de copo na mão, a olhar para a superfície. Sou desta cidade, e sei que nela está viva a vila, nela ainda existe a chama contemporânea da lembrança de quando a cidade era a Vila de Loulé. Transporto essa lembrança, esse alvoraçado olhar primordial, colhido nos passeios empedrados da Rua do Matadouro, onde se faziam arcos e festas pelas noites fora. Da Rua Serpa Pinto, a imagem da nossa porta. No Jardim de São Francisco, ainda se encontra a sombra dos meus peixes vermelhos, deslizando no lago sobre o qual cai, agora diferente, o mesmo pingo de água. As mesmas árvores. Sei que as ruas ainda têm curvas das minhas pedras, os panos das minhas muralhas e ameias, ainda vejo o Coreto animar-se, os instrumentos zumbirem pela noite, marciais e líricos. Sentávamo-nos nos bancos dos jardins, encostávamo-nos aos umbrais. Crianças, dormíamos no colo das mães e das vizinhas. Acordávamos sobre os ombros, ao atravessar o Largo dos Chafarizes. Tudo memórias vagas, como luzes numa e no entanto tão íntimas e necessárias como o gosto da própria língua. Não há nada a fazer - Quando parte de nós pertence a uma cidade, entre nós e ela, existe um vidro que a amplia, a quebra e a recompõe dum modo imaginário. A cidade transforma-se num ente poderosamente outro. Sobre ela se exerce um sexto olhar. (...)".

Lídia Jorge in  “Sexto Olhar”

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Ficha Técnica

texto: Lídia Jorge

leitura: Susana Menezes

desenho digital em tempo real: Sara Feio

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Bio Lídia Jorge

Nasceu no Algarve, passou alguns anos decisivos em Angola e Moçambique, formou-se em Filologia Românica na Universidade de Lisboa, deu aulas, escreveu mais de vinte livros editados em várias línguas, entre eles, romances, antologias de contos, uma peça de teatro. Os Memoráveis e O Organista são as suas mais recentes onras. A 26 de Novembro de 2014, foi-lhe atribuído o Prémio Luso-Espanhos da Artes e Cultura concedido pelo Ministerio de Educación, Cultura e Deporte de Espanha e pal Secretaria de Estado da Cultura de Portugal. Em Espanha os seus livros têm sido publicados pelas editoras Alfaguara e Sex-Barral.

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             festival criações nacionais

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15 Abril, 21h30

Cine-Teatro Louletano

Av. José da Costa Mealha

8100-501 Loulé

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Viagem Sentimental

Francisco Camacho dança

 

Sexto Olhar

Lídia Jorge texto

Sara Feio desenho digital em tempo real

Susana Menezes leitura

 

Roteiros alternativos & itinerários subjectivos 

Luís da Cruz e Miguel Mendes roteiro

Jorge Mestre Simão vídeo

 

o interesse pelo lugar

Luís da Cruz

exposição de fotografia

(foyer de 11 a 15 Abril)

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informações e reservas - 289 414 604 

cinereservas@cm-loule.pt

​>12 anos

preço bilhetes - 7€

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